
Lançado há quase uma década, o livro “Visualidade” (editora Escrituras) continua sendo a maior e mais rica trilha para os interessados na pintura. A obra é fruto da inquietação acadêmica da professora Célia Campos. O texto de fácil leitura cumpre a missão de refazer o longo percurso de 100 anos (1892 – 1992) da produção pictórica alagoana.
Para ir tão longe, ela mergulhou numa intensa pesquisa bibliográfica. Não à toa, passou oito meses imersa em jornais antigos do acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. O resultado tem trechos reveladores, como os anos de 1930 e 1940. Nessa época foram realizados vários eventos como a Arte Nova, organizada por Lourenço Peixoto, uma das figuras mais importantes da pintura local.
Já a década de 80 é marcada pelo surgimento de grupos como Vivarte e Cruzada Artística. Ambos trouxeram um proposta desestabilizadoras, questionando uma realidade muito bem comportada.
“Como das manifestações artísticas a pintura é aquela que tem um desenvolvimento mais sistemático e contínuo, foi possível fazer levantamentos, leituras comparativas e análises críticas da produção nos últimos cem anos”, diz a professora da Universidade de Minas Gerais, que trabalhou na Ufal durante mais de uma década.
Selo de artista
Munida dos conceitos da Sociologia, Célia Campos considera a arte como uma resposta ou fruto do meio. Em outras palavras, uma consequência social, econômica e cultural de um dado momento histórico. A partir daí, foi possível constatar, no século pesquisado, uma arte alagoana predominantemente elitizada.
“É uma arte tradicional e amarrada no gosto de uma determinada elite da população, uma pequena parcela que que compra e encomenda quadros. Como existe outra parcela totalmente separada do fazer artístico, podemos dizer que a arte alagoana é elitizada. Dentro desse contexto, os movimentos questionadores são sempre muito tênues”.
De acordo com ela, a falta de atitude profissional é um dos grandes problemas do cenário artístico de Alagoas. “Na arte contemporânea o artista precisa estar consciente das suas ideias, daquilo que quer expremir. Não adianta ver a inspiração como um dom, algo divino. O trabalho artístico é um trabalho de profissão”, afirma Célia Campos, que tirou dinheiro do próprio bolso para transformar a pesquisa em livro.
Sem meias palavras, a exigente professora de História da Arte nunca considerou artista os que pintam sem a consciência do ato criativo. Usa critério claros para avaliar os trabalhos artísticos com os quais se depara.
“Sempre coloco o artista dentro de uma dada realidade, num determinado momento histórico e num espaço geográfico. Depois avalio até onde domina tecnicamente o material usado, e o último passo é a qualidade expressiva da obra. O artista quem usa arte como terapia, hobby, ilustração, não é artista”.
Por Roberto Amorin

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